segunda-feira, 12 de março de 2012

A IGREJA DE DEUS. A IGREJA NO MATO GROSSO


A Igreja Católica é Católica Apostólica e Romana. Católica porque está presente no mundo todo, Apostólica porque vivenciamos o mandato que Jesus deixou aos 12 que Ele escolheu e Romana porque temos na pessoa do Papa, que reside em Roma, o primado administrativo da Igreja terrestre. Jesus escolheu Pedro para o primeiro Papa e os primeiros cristãos firmaram em Roma a sede da fé Católica.

Muitos anos se passaram e a Igreja que é divina, conduzida por pessoas humanas sob a ação do Espírito Santo, anunciou o Evangelho seguindo os passos indicados por Jesus Cristo. Ela acertou, errou, buscou, sofreu, foi e continua sendo perseguida. Bem como foram os primeiros cristãos. Mas o que nos alegra em tudo isso, e igualmente o coração de Deus, é que estamos a caminho e construindo o reino entre nós que nos fará chegar ao reino prometido: participarmos de Sua glória.

Para isso, a Igreja tem descoberto os melhores caminhos para o anúncio do reino. Nesses melhores caminhos também existem pedras, buracos, pontes caídas... nem por isso desistimos da caminhada. Enfrentamos a realidade, vencemos as dificuldades e continuamos a caminhar. Os melhores caminhos significam a linguagem correta, os meios adequados, a realidade meditada e vivência da Palavra de Deus no dia a dia.

Deus convida a Sua igreja, que somos todos nós, a não nos perdermos nesse caminho. Não podemos tomar outro rumo. Torna-se necessário iluminarmos a nossa realidade humana com a graça do Espírito do Ressuscitado. Jesus ensinou os Seus a ser uma igreja inserida na realidade. Convida-nos igualmente a colocarmos os pés no chão e vivermos Deus na nossa realidade.

Cometemos um grande pecado contra a cultura do povo de Deus se forçarmos a vivência em Deus fora da realidade onde estamos inseridos. Vou ser bastante claro: Não estamos em Roma, nem em Jerusalém e muito menos sentados ao lado de Jesus Cristo na glória do Pai. Estamos no Mato Grosso, onde vivem os índios, os assentados, os sem-terras, os oriundos de várias regiões do país e porque não dizer do mundo. Pecamos contra a missão quando queremos aqui, falar contra as culturas daqui e não viver aqui a realidade daqui. Vou ser claro e objetivo mais ainda: uma missão é uma liturgia,  bem como a contemplada em Roma, não serve para o Mato Grosso. Se Jesus estivesse aqui hoje, tenho a plena certeza que Ele não andaria de batina e falaria mal dos índios e sem terras, mas entraria em todas essas realidades com o amor de Deus, acolhendo e perdoando a todos.

Eu admiro a audácia de quem se diz cristão, anuncia a palavra de Deus nestas realidades e critica essas realidade, exaltando uma realidade que não serve para nosso povo. Quem fala mal das CEBs e teologia da libertação no Mato Grosso, não serve para anunciar o Evangelho no Mato Grosso. O povo de Deus que vive aqui, sofrido e machucado por tantas injustiças sociais e exclusões, não está precisando de pompas, mas de um olhar de ternura, de amor, de acolhimento e da Palavra que os liberte e os faça ser dignos de celebrar a graça de Deus.

Jesus fez parte de uma história humana. Um povo sofrido, destruído, desanimado, mas também orgulhoso. Como rei, humildemente desceu até a realidade de cada coração, deixou-se humilhar para valorizar cada um conforme as suas necessidades. Não se vestiu como rei (podia ter feito, mas preferiu não) e saiu gritando que o adorassem, mas serviu, se fez um com todos aceitando entregar a própria vida.

O correto seria imitarmos Suas atitudes. Isso se quisermos ser cristãos.

Erramos quando nos vangloriamos e acusamos o outro como errado e nos colocamos no pedestal como exemplo. Erramos também quando ao invés da correção fraterna, redigimos cartas para desabar. Erramos igualmente quando nos colocamos a dividir o povo de Deus e com isso todos passam a optar: eu gosto do A. Eu prefiro o B. Nascem os protestos e cartas como imposição e assinaturas para excluir ou não alguém do meio de nós. Igreja não é BBB, também não é palanque político e muito menos local para manifestar ideologias. Igreja é o amor de Deus em ação.

Na Igreja de Deus abaixo-assinado nunca teve valor. Espero que nunca tenha. E que o valor seja a vida do povo celebrada com dignidade no coração de Deus.

Como discípulos missionários, reflitamos: o que faço tem valor para Deus ou para mim? A maneira como me porto diante da sociedade, agrada a Deus ou ao povo? Saul agradou o povo, e ...   Jesus agradou a Deus, e ...          


Deus abençoe nosso povo. Índios, retirantes, sem-terras, latifundiários, famílias, crianças, jovens, adultos, enfermos, excluídos, trabalhadores, desempregados, funcionários, patrões, servidores públicos, letrados, analfabetos, mendigos, abandonados ... esse é o povo de Deus. Essa é a Igreja de Cristo
    


                                                                                              Pe. Ramiro J. Perotto


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